Em um cenário de total entrincheiramento moral e intelectual da sociedade por circunstancias duvidosas, vozes sensatas precisam surgir para dar novos ares aos pensamentos e criar uma condição para respirarmos. Os odores de incompreensão e intolerância são gases venenosos que amortecem o coração dos homens, principalmente das crianças, e diante desse cenário, temos pais e mães trancando seus filhos com orgulho em suas câmaras de gás privadas.
O tema central que gira em torno de toda essa cortina de fumaça que as retóricas constroem nos sugerem dois lados. De um temos o “fortalecimento da família” de outro a “distribuição de renda”, dois temas muito caros para todas as sociedades, mas no Brasil, aparentemente ser favorável a um significa estar contra o outro.
“Fortalecimento da família” da forma que está sendo colocado atualmente, nos passa a ideia de que tudo se resolve quase que por um passe de mágica, mas tragicamente, assim como tudo na vida, isso demanda muito trabalho. Para fortalecer uma família, o primeiro passo é pensar na estrutura social da família.
No contexto atual encontramos temos muitas funções e papeis invertidos: pais sendo filhos dos seus filhos, mãe sendo pai de filho, famílias sem mãe, e etc. Se cada peça é um tipo de engrenagem, aqui já temos bastante problemas.
Toda a família precisa de uma estrutura física, casa, alimentação e vestuário. Se uma casa tem um quarto a menos do que a família necessita, temos conflitos diários, se não tem alimentação a família se transforma em um jogo de manipulação e discórdia pela sobrevivência, se não tem vestuário a autoestima e a saúde ficam à mercê da boa vontade ou das capacidades individuais.
A constituição de uma família depende não somente de uma estrutura social, mas também de estrutura financeira, somada a harmonia para um diálogo saudável, espaço de construção de saberes coletivos, demonstração de carinho e afeto genuíno.
A distribuição de renda auxilia em resolver algumas situações e contribui para criar o mínimo das condições necessárias para pensar, respirar, orientar e agir. Contudo, sem uma constituição de homens de integridade e responsabilidade para serem pais para serem referência e mães amorosas e complacentes para educar e orientar, nada disso irá ser efetivo.
Enquanto sociedade temos de começar a olhar para as crianças com o mesmo olhar que fazemos quando investimos na bolsa de valores, para as famílias como olhamos para nossos empreendimentos mais caros.
A responsabilidade de mudança está dentro de cada um de nós, a partir da mudança de postura dentro e fora de casa, da atitude de colocar amor na construção das relações, e de parar de mentir para nós mesmos sobre como nos importamos, ou seja, encarando a realidade como ela é se colocando em ação que somos capazes de realizar transformações verdadeiras e duradouras.